segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Cabra da Peste 2011

Vou fazer uma descrição da prova mais dura do brasil e uma das mais difíceis do mundo. Bom, acordei as 3 horas da amanhã de sábado para tomar café, arrumar os últimos detalhes e pegar o ônibus da organização que levaria os atletas de fora até o local da largada do longão, ou mais precisamente, o ironman do nordeste. O local de largada seria na lagoa do banana, distrito de Caucaia. A natação estava tranquila, duas voltas de 1900 mts, fiz um tempo esperado, ou seja, nadei bem para meu ritmo, depois foi o início sem fim do sofrimento. O pedal foi feito numa rodovia com o acostamento bom, mas o trânsito intenso, com carros ultrapassando outros sem a menor noção do perigo, fora as entradas e saídas de motocicletas e carros a todo momento na rodovia, vindo de estradas de terra e afins. O vento era constante na ida e na volta, pois seriam 4 voltas passando pelo local da largada. O vento e o calor foram as principais dificuldades não só para mim mas para todos os atletas, assim tive a sensação que não era só eu que estava sofrendo, desse jeito ficava mais tranquilo trabalhar a mente, um fator decisivo no cabra da peste. Tinha trechos que o vento chegava a 35 km/h e a velocidade da bike não passava os 15 ou até mesmo os 20 km/h. A primeira volta foi tranquila, fiz num ritmo bom, sem forçar demais mas também não muito lento, mas a partir da segunda volta parecia que já tinha pedalado todo o percurso, uma sensação de desespero foi tomando conta de mim e aquelas vozes nevativas que sempre aparecem em dias de prova ganhavam força, tanto que durante o pedal várias vezes pedi que furasse meu pneu, pois assim como não tinha camara reserva, saíria da prova, pois na noite anterior estava calibrando os pneus e um deles estorou com ar em excesso, assim já corri preocupado, porque não teria uma reserva durante horas de ciclismo. Bom, já que a tática de furar o pneu não estava dando certo pensei que poderia ser eliminado da prova por excesso de tempo, ou seja, o atleta tinha até 15:30 da tarde para completar a natação e o ciclismo, mas não teve jeito, no final da última volta vi que nada aconteceria então, minha mente começou a ficar mais forte e confiante pois sabia que daria para completar a prova. Um detalhe: fiz todo os 180 km numa bike road, pois minha contra relógio está sem garfo desde minha queda em agosto. Depois que terminei a etapa de ciclismo foi um alívio pois a partir daquele momento senti que o pesadelo estava acabando, mas me enganei novamente, era ali na área de transição para a corrida que meu sofrimento iria começar. Comecei bem a corrida, bem alimentado, hidratado e pronto para encarar os 42 km até a praia de Iracema, fui num ritmo tranquilo no início para sentir as pernas, depois de 45 minutos fiz a primeira parada e comecei a caminhar, fiquei alternando desse jeito até a primeira metade dos 21 km. O calor era impressionante, mesmo passando protetor solar, o corpo fritava e não adiantava jogar água porque logo em seguida o corpo pedia mais, e foi assim a prova toda, a umidade do ar muito alta também, devo ter ingerido água por uns 2 meses, só no pedal haviam 2 pontos de hidratação e cada vez pegava 3 garrafas com água gelada, sendo assim foram 24 garrafas, e na corrida mais 6, fora copos de coca-cola e gatorade . Um pouco antes da metade da maratona entrei num restaurante a beira da estrada e fui ao banheiro, estava com uma sensação de barriga cheia desde o início da prova e depois de ingerir várias bananas desidratadas, senti que precisava aliviar a carga, e saí para correr mais aliviado e leve. Logo mais a frente havia um posto de hidratação, tomei literalmente um banho de água gelada distribuída pela organização e senti que estava zero, mas, mais uma vez me enganei porque os últimos 21 km foram os mais longos e sofridos, competi com um tênis com solado fino, um detalhe que me causou várias bolhas no peito do pé e nos dedos, o drama foi aumentando pois quando iniciava um trote sentia dores nos pés e não conseguia mais correr, mas no final faltando 2 km forcei e consegui cruzar a linha de chegada. Uma emoção forte tomou conta de mim e coloquei para fora aquele choro misturado de alívio com missão cumprida, uma sensação de prazer inigualável, só quem faz uma prova como o ironman sabe como é, passar sobre o pórtico de chegada, não tem preço. Mais um ironman para a coleção e sem dúvida foi o mais difícil de todos, não só pelo calor intenso e fortes ventos, mas pelas dificuldades que enfrentei para estar largando no dia da prova, não treinei bem, sofri duas quedas feias de bike durante o treinamento e outras dificuldades, mas o mais importante de tudo foi focar minha mente e trabalhar para que pudesse chegar a qualquer custo, mesmo que fosse engatinhando, o lema é este, chegar independente de tempo ou colocação.

3 comentários:

  1. Ola Claudio,
    Nós não nos conhecemos, mas venho acompanhando seus relatos desde o seu primeiro acidente.
    Parabéns pela conquista e principalmente pela superação.
    Agora é hora de curtir a família e aproveitar o tempo livre.

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  2. Claudão meu Xará, parabéns pela perseverança e determinação. Fazer um IM é possível a qualquer um, já incorporar esta prova como estilo de vida é pra poucos, esse certamente será só mais um de vários que farão parte da sua história de vida. Dificuldades são para serem superadas e lembre-se "os ousados vencem". Auuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu

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  3. Parabéns Claudio... veja o vídeo da competição, http://www.youtube.com/watch?v=TnoJFEiRzVY

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